sábado, fevereiro 02, 2008

Entrevista: Izidoro Lopreto Filho

Conforme anunciado no post anterior, damos início aqui a série de entrevistas com jornalistas e membros de torcidas organizadas para falarmos a respeito do papel da imprensa na violência do futebol. Um dos nossos entrevistados foi Izidoro Lopreto Filho, então diretor da torcida Mancha Alvi-Verde, do Palmeiras. A conversa com Marcelo Manfré ocorreu no dia 28 de junho do ano passado.


Marcelo Manfré: A violência do futebol, como que a mídia aborda isso?
Izidoro Lopreto Filho: A mídia ela aborda do jeito que ela acha mais conveniente, do jeito que ela acha que ela vai conseguir bons números de pontos no ibope e maior número de vendagens de jornal e revistas, então ela é muito sensacionalista, tá? Então ela, isso como tem um jogo entre Palmeiras e Corinthians, por exemplo, e não há um ato de violência, não há nenhum caso grave de violência nem ocorrência nenhuma, isso daí pra eles é uma frustração muito grande, porque o que dá audiência é exatamente a violência, então eles abordam o máximo possível porque é o que vende.

Como você acha que seria um jeito melhor de tratar esse assunto? Você vê algum ponto, alguma forma que ela trataria melhor, algumas coisas que ela poderia deixar de fazer e outras coisas que ela poderia fazer para ela influenciar de uma forma mais positiva?
Não, não. Eu acho que a imprensa, toda a mídia, às vezes os próprios jogadores de futebol ele que promove a violência, ta? Às vezes a gente pode até fazer o jogo, assim, de paz, sem problema nenhum e um jogador incita outro jogador ou um jogador vai lá na hora que marca um gol vai comemorar o gol na torcida adversária.

(Interrompendo): Nesse caso, o Showball, por exemplo?
Exatamente. Isso aí são tudo coisas que eles incentivam à violência. E a mídia também. Às vezes ela faz determinado tipo de colocação ou algumas manchetes de jornais que tenta provocar uma torcida à outra.

Se o jogador briga, ou provoca em campo, isso chega a torcida?
Com certeza, não há dúvida nenhuma. Eu nunca me esqueço do jogo Palmeiras e São Paulo, que era o jogo da paz e saiu uma briga dentro do campo, e aquela paz que estava no início do jogo, virou campo de guerra. Então, saiu de dentro pra fora. Geralmente as brigas que acontecem dentro do estádio de futebol ou ao redor é de dentro pra fora, aí criam essas rivalidades.

Você lembra de alguma vez que essa briga aconteceu porque a mídia forçou algo entre jogadores ou entre as torcidas?
Não, isso não. Isso daí, que eu tenha conhecimento, não. Seria muito leviano se eu fizesse uma afirmação dessa. Isso eu não me recordo de ter feito isso. Não, assim, o torcedor de torcida organizada, o próprio torcedor comum de futebol, às vezes ele é uma pessoa. Às vezes não, normalmente, ele é uma pessoa que não é bandido, que não é marginal. O torcedor de futebol, ele é apenas ele, ele é um apaixonado pelo seu clube, e muitas vezes, essa pessoa que é apaixonada pelo seu clube, ele trabalha, estuda, tem uma família, tem uma vida normal. Só que quando ele põe a camisa do seu clube, e se junta a três ou quatro, ele se transforma. Agora, isso tudo, a gente resume na palavra paixão. Quando envolve paixão, tudo é possível, haja vista quando você vê aí alguns crimes que acontecem passionais, crime de pessoas que matam a mulher, ou que mulher mata o homem. Quê isso? É paixão. Tá, então, dá aquele branco, a pessoa fica cega, e às vezes ele comete atitudes impensadas, mas tudo movido pela paixão.

Então, vamos supor: se a mídia tomasse uma postura de evitar nos clássicos de fazer esse negócio de colocar um contra o outro. De repente, analisar o clássico como uma disputa, sem falar que o jogador falou isso de um time, falar que o jogador provocou o adversário, ela ajudaria a diminuir?
Dentro de cada, de determinadas situações, mas é, é aquilo que eu te falei, logo no início, pra mídia isso não é interessante. Porque eles querem audiência, eles querem vender, mas, eles querem vendagem. Então, como tava falando, você se lembra de antigamente? Apostas de jogadores. Eles até promoviam apostas entre os jogadores. Isso aí foi proibido. Por quê? Porque já incentivava uma provável disputa, porque tudo vem de dentro pra fora, tudo, tudo, não adianta.

Você acha que o linguajar na hora que a mídia trata o jogo, como esse “jogo de vida ou morte”, “guerra”, isso é uma linguagem adequada, ou ele incendia...
... é pra tentar instigar ainda mais...

... pra criar um clima?
Lógico. Porque, o que que acontece? Eles vivem disso, eles vivem do futebol. Então, eles precisam fazer a divulgação que eles fazem, de graça teoricamente, eles vivem disso. É aquilo que eu te falei, o clássico sem violência, quer entre os jogadores, vamos supor, um jogo sem nenhuma ocorrência é mais um jogo, tá? Aí vamos supor, joga Corinthians e Palmeiras, no sábado, e não aconteça nada, se Deus quiser, tranqüilo e tal, um jogo 0 a 0. Aí joga Santos e XV de Piraporinha, lá em Santos. Quebra um pau desgraçado, o foco vai ser em cima do jogo do Santos.

Nota do Blog: Atualmente, Izidoro não faz mais parte do quadro de membros da torcida organizada Mancha Alvi-Verde. Sua saída se deu no final de 2007, por razões não divulgadas.

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