domingo, janeiro 27, 2008

Futebol e Violência



Em 2007, Marcelo Manfré e eu apresentamos um artigo e realizamos nosso trabalho de conclusão de curso fazendo uma análise de como a imprensa esportiva influencia na violência do futebol. Além da teoria (pouca, diga-se de passagem) sobre o assunto, conversamos com jornalistas e membros de duas torcidas organizadas de São Paulo.
Agora, já formados, resolvemos disponibilizar aqui as entrevistas realizadas para estes trabalhos. Estamos terminando de decupar uma delas e logo ela estará disponível no blog.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Pontapé Futebol Clube

Futebol moderno prega o resultado em detrimento ao futebol arte. Onde ficam os craques?

Leonardo Rosa e Marcelo Manfré*

No futebol da raça e pegada, não dá para saber de quem é a bela jogada na foto

O futebol é um esporte marcado por chavões. “Temos que respeitar o adversário”, dizem alguns. Outros filosofam que “futebol é uma caixinha de surpresas”, além da pérola “o jogo só acaba quando termina”. Agora, desde pequeno aprendemos que “o importante é competir”. Então, como fica esta velha máxima quando a competição envolve dinheiro e reconhecimento?

A história do futebol é marcada por jogadores que faziam verdadeiros malabarismos com a bola, chamados por alguns de pés de anjo. A jogada plástica, o lançamento preciso e os dribles desconcertantes são as características mais notórias para analisar um jogador. E se formos eleger os dez maiores nomes do futebol, provavelmente serão todos aqueles que buscam sempre ir à frente, sejam atacantes ou meios de campo, com grande habilidade desfrutada nos gramados.

Há algum tempo, era mais comum no futebol ver atletas com tais habilidades. Mesmo os grandes defensores, também chamados de beques nos tempos de Nelson Rodrigues, eram jogadores de classe que tinham como principais virtudes o tempo de bola e precisão para antever as jogadas adversárias. As jogadas mais duras, faltas desleais e jogos truncados aconteciam, mas em menor número perto do que temos hoje. A preocupação do jogador era sempre realizar uma jogada perfeita com beleza e precisão.

Entretanto, o futebol foi se transformando a cada dia mais profissional e competitivo. A força física e o condicionamento do atleta começaram a ganhar importância e os jogos passaram a ser cada vez mais disputados e faltosos. Jogadas violentas começaram a ser corriqueiras em partidas, e o drible, característica dos grandes craques do esporte, tornou-se sinônimo de ofensa. Se Garrincha, que dizia preferir dar um drible a fazer um gol, jogasse hoje, provavelmente seria visto como um grande provocador. Isso se já não tivesse sua carreira encerrada por contusão devido aos pontapés de um jogador qualquer.

Não é difícil citar casos de jogadores, que por terem muita habilidade, se contundiram seriamente na história recente do jogo. Tostão encerrou sua carreira aos 27 anos, em 1974, por problemas de visão, conseqüência de um descolamento na retina sofrido em 69 ao levar uma bolada do zagueiro Ditão, do Corinthians. Muitos atletas já passaram por isso. No final dos anos 80, Marco Van Basten, astro da seleção holandesa, precisou encerrar precocemente sua carreira por entradas violentas recebida de seus adversários. O Grêmio da década de noventa tinha em Dinho, que jogava como volante, um dos seus maiores ídolos. Ele era um exemplo notório da valorização do jogo truculento e muitas vezes desleal. Dinho ficou conhecido pelas entradas violentas que buscavam intimidar os atletas adversários.

As últimas Copas do Mundo têm mostrado um futebol de pouca qualidade ofensiva e mais poderio de marcação. Foi na Alemanha, durante a Copa de 2006, que o futebol pragmático baseado na marcação chegou ao seu auge. A Itália, seleção campeã, não tinha um craque. Seu camisa 10, Totti, é um ótimo jogador, porém longe de ser craque. A maior força do time era seu conjunto, que estava alicerçado em um esquema defensivo tendo como seu maior representante o volante Gatusso. Esta foi a Copa dos truculentos. mesmo Zidane sendo escolhido o melhor jogador da Copa, o melhor do ano foi pela primeira vez na história um zagueiro, Canavarro. Mais um sinal de que o futebol viril ganha cada vez mais espaço. Precisamos voltar a ver o futebol como arte. Os craques do passado serão sempre lembrados e idolatrados, mas queremos em nossos gramados seus herdeiros, e que seja uma grande prole.

* Marcelo Manfré é jornalista, torcedor do Dracena Futebol Clube e mais novo membro deste blog. Logo logo ele dará seus pitacos por aqui.

Pontapés nas arquibancadas


A crescente violência que o futebol sofreu dentro dos gramados, com jogadas violentas e brigas entre jogadores também se refletiu nas arquibancadas. Da década de noventa em diante se observou um crescimento acelerado do número de brigas entre torcidas e esses confrontos já produziram várias vitimas fatais.
Passou a ser comum ocorrer brigas entre torcedores e policiais ou torcedores contra torcedores, especialmente nos dias de clássicos, quando os ânimos estão mais exaltados. Até brigas entre adeptos do mesmo time ocorrem pelos motivos mais banais.
A questão é que o torcedor de futebol é um espectador na maioria das vezes tomado de uma paixão que, no estádio principalmente, se torna irracional. Atitudes que jogadores têm em campo influenciam no comportamento dos torcedores. A partir do momento que a força passou a ser uma virtude no futebol, a agressividade em campo aumentou e se refletiu na torcida.
A impetuosidade nas partidas se manifesta da maneira mais primitiva, protagonizando cenas de violência gratuita. Os adversários tornam-se inimigos mortais e o ódio pelo rival muitas vezes é maior que a paixão pelo próprio time. Isso tudo faz até com que pessoas que nunca brigaram e que não possuem antecedentes de violência, se deixem levar pelo momento e protagonizem brigas e quebra-quebra nos estádios e em seus redores.
Autoridades tentam reverter esse quadro com medidas de segurança como instalações de câmeras de vídeo, cadeiras numeradas e leis mais severas para os que participam de brigas. Todas essas medidas são válidas, mas se não houver uma mudança na mentalidade o problema não será resolvido. É necessário que o jogo volte a ser visto como um esporte, onde se disputa uma partida e não uma guerra.
Os jogadores têm que voltar a se respeitarem em campo e valorizar o jogo bem jogado, onde se inclui também marcação, mas sem jogadas desleais e violentas. Para os torcedores perceberem que os jogadores são adversários e não inimigos. E que as torcidas rivais disputem para ver quem apóia mais seu time, não para ver qual é a mais violenta ou que põe mais medo na outra. O mundo já está violento o suficiente, não é preciso cultivar mais esse tipo de violência em estádios que foram construídos para os apreciadores do bom futebol.
(LR e MM)