sexta-feira, janeiro 25, 2008

Pontapé Futebol Clube

Futebol moderno prega o resultado em detrimento ao futebol arte. Onde ficam os craques?

Leonardo Rosa e Marcelo Manfré*

No futebol da raça e pegada, não dá para saber de quem é a bela jogada na foto

O futebol é um esporte marcado por chavões. “Temos que respeitar o adversário”, dizem alguns. Outros filosofam que “futebol é uma caixinha de surpresas”, além da pérola “o jogo só acaba quando termina”. Agora, desde pequeno aprendemos que “o importante é competir”. Então, como fica esta velha máxima quando a competição envolve dinheiro e reconhecimento?

A história do futebol é marcada por jogadores que faziam verdadeiros malabarismos com a bola, chamados por alguns de pés de anjo. A jogada plástica, o lançamento preciso e os dribles desconcertantes são as características mais notórias para analisar um jogador. E se formos eleger os dez maiores nomes do futebol, provavelmente serão todos aqueles que buscam sempre ir à frente, sejam atacantes ou meios de campo, com grande habilidade desfrutada nos gramados.

Há algum tempo, era mais comum no futebol ver atletas com tais habilidades. Mesmo os grandes defensores, também chamados de beques nos tempos de Nelson Rodrigues, eram jogadores de classe que tinham como principais virtudes o tempo de bola e precisão para antever as jogadas adversárias. As jogadas mais duras, faltas desleais e jogos truncados aconteciam, mas em menor número perto do que temos hoje. A preocupação do jogador era sempre realizar uma jogada perfeita com beleza e precisão.

Entretanto, o futebol foi se transformando a cada dia mais profissional e competitivo. A força física e o condicionamento do atleta começaram a ganhar importância e os jogos passaram a ser cada vez mais disputados e faltosos. Jogadas violentas começaram a ser corriqueiras em partidas, e o drible, característica dos grandes craques do esporte, tornou-se sinônimo de ofensa. Se Garrincha, que dizia preferir dar um drible a fazer um gol, jogasse hoje, provavelmente seria visto como um grande provocador. Isso se já não tivesse sua carreira encerrada por contusão devido aos pontapés de um jogador qualquer.

Não é difícil citar casos de jogadores, que por terem muita habilidade, se contundiram seriamente na história recente do jogo. Tostão encerrou sua carreira aos 27 anos, em 1974, por problemas de visão, conseqüência de um descolamento na retina sofrido em 69 ao levar uma bolada do zagueiro Ditão, do Corinthians. Muitos atletas já passaram por isso. No final dos anos 80, Marco Van Basten, astro da seleção holandesa, precisou encerrar precocemente sua carreira por entradas violentas recebida de seus adversários. O Grêmio da década de noventa tinha em Dinho, que jogava como volante, um dos seus maiores ídolos. Ele era um exemplo notório da valorização do jogo truculento e muitas vezes desleal. Dinho ficou conhecido pelas entradas violentas que buscavam intimidar os atletas adversários.

As últimas Copas do Mundo têm mostrado um futebol de pouca qualidade ofensiva e mais poderio de marcação. Foi na Alemanha, durante a Copa de 2006, que o futebol pragmático baseado na marcação chegou ao seu auge. A Itália, seleção campeã, não tinha um craque. Seu camisa 10, Totti, é um ótimo jogador, porém longe de ser craque. A maior força do time era seu conjunto, que estava alicerçado em um esquema defensivo tendo como seu maior representante o volante Gatusso. Esta foi a Copa dos truculentos. mesmo Zidane sendo escolhido o melhor jogador da Copa, o melhor do ano foi pela primeira vez na história um zagueiro, Canavarro. Mais um sinal de que o futebol viril ganha cada vez mais espaço. Precisamos voltar a ver o futebol como arte. Os craques do passado serão sempre lembrados e idolatrados, mas queremos em nossos gramados seus herdeiros, e que seja uma grande prole.

* Marcelo Manfré é jornalista, torcedor do Dracena Futebol Clube e mais novo membro deste blog. Logo logo ele dará seus pitacos por aqui.

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